20 c | Campina Grande, PB | Tempo nublado
  • quinta-feira, 21 de novembro de 2024
MUNDO

O Estado Islâmico

Conhecido pelos métodos brutais, o Estado Islâmico amplia a sua atuação em vários países, desafiando a segurança mundial e desestabilizando o Oriente Médio.

O

grupo extremista mais poderoso do planeta mantém uma vasta rede de recrutamento e de financiamento para as suas operações. Com um vasto território que abrange áreas do Iraque e da Síria, um enorme poder de mobilização e uma eficiente capacidade operacional, o Estado Islâmico (EI) é considerado a organização extremista mais poderosa e bem-sucedida da história. Sua ascensão está diretamente associada à política de "Guerra ao Terror" implementada pelo então presidente norte-americano George W. Bush (2001-2009) como resposta aos atentados de 11 de setembro de 2001 cometidos pela Al Qaeda, rede terrorista de Osama Bin Laden.

A ocupação do Iraque como parte da ofensiva dos EUA contra o terrorismo, entre 2003 e 2011, teve como um dos principais efeitos colaterais o surgimento de um movimento local contra a invasão norte-americana. Nesse contexto, surgiram diversas milícias que contestavam a presença de tropas dos EUA. Uma delas era a Al Qaeda do Iraque, uma filial da rede de Bin Laden. Criada em 2004, essa organização daria origem ao poderoso grupo que conhecemos hoje como Estado Islâmico.

Nos anos seguintes à criação da Al qaeda do Iraque (AQI), o caos no Iraque e na Síria foi um terreno propício ao avanço do grupo: enquanto no Iraque há uma sucessão de disputas políticas e conflitos sectários (entre sunitas e xiitas), a Síria vive desde 2011 um confronto entre grupos rebeldes, apoiados pelas potências ocidentais, e o regime do ditador Basher al-Assad. Aproveitando o vácuo de poder e de segurança nessas regiões, a organização foi ganhando força, com frequentes fusões e trocas de nomes nesse perrcuso.

O ano de 2014 representou um marco na expansão do grupo. Em junho daquele ano, o líder da organização Abu Bakr al Baghdadi proclamou a criação de um califado nos territórios ocupados sob a alcunha de Estado Islâmico e se autodenominou o califa (um líder espiritual investido de poder político). O califado é uma referência aos antigos impérios islâmicos surgidos após a morte do profeta Maomé - o último califado foi o Império Otomano, dissolvido em 1920. No entanto, este suposto califado carece de legitimidade mesmo dentro do mundo árabe-muçulmano.

Recrutamento de voluntários

A força do EI vem principalmente de sua capacidade militar e operacional. O número de integrantes do EI é de difícil verificação. As estimativas mais aceitas indicam que o grupo aglutina no mínimo 35 mil combatentes. Mas há avaliações que chegam a 100 mil militantes. No Iraque, o EI absorveu membros do antigo Exército de Saddam Hussein, desmantelado após a deposição do ditador, em 2003. Além disso, a população sunita passou a ser cada vez mais discriminada pelo governo pró-xiita, o que levou muitos a aderir ao grupo fundamentalista.

Mas o que impressiona é a capacidade do EI em atrair voluntários de todas as partes do mundo, inclusive do Ocidente. Muçulmanos que vivem em países da Europa, desiludidos com a segregação e a falta de oportunidades, aceitam engrossar as fileiras do EI com a promessa de salvação. Utilizando tecnologias de comunicação que vão de vídeos no YouTube a revistas online, o grupo manipula o discurso religioso para incitar o ódio e atingir seus objetivos políticos. Acredita-se que os membros estrangeiros (fora da Síria e do Iraque) seriam provenientes de 80 países. Como estratégia de guerra, o EI promove execuções e amputações em massa, às vezes contra comunidades inteiras, e mortes coletivas, por crucificação, decapitação e enforcamento. Essa imposição pelo terror visa a atemorizar todos aqueles que o grupo classifica de infiéis (minorias étnicas e reliogisas e ocidentais) ou apóstatas (muçulmanos que teriam renegado a religião). Como um grupo de orientação sunita, seus ataques atingem principalmente os xiitas. As raízes doutrinárias do EI, em sua cruzada contra os infiéis, podem ser encontrados no wahabismo e no salafismo, movimentos sunitas ultraconservadores e radicais difundidos pela Arábia Saudita. Mas a organização não é movida apenas pelo ódio religioso. Com a instituição do califado, o grupo pretende criar uma nova ordem política no Oriente Médio e, a partir da conquista de novos territórios, um Estado genuinamente islâmico e uma sociedade livre dos costumes ocidentais.


Veja também

Terremoto na Turquia e Síria: entendendo suas consequências